Canarinho Hermano

Brasil e Argentina: uma relação de proximidade e distanciamento gerada pelo futebol

A chama da rivalidade que aquece um dos maiores embates do mundo no futebol 

Repórteres: Manuel Nardi e Monise Almeida 

No cenário do futebol mundial, poucas rivalidades têm capturado a imaginação dos torcedores como a histórica disputa entre Brasil e Argentina. Esses dois gigantes do esporte, compartilham mais do que uma fronteira geográfica. Eles dividem uma rivalidade que transcende o campo de futebol e penetra nas raízes culturais e sociais dos dois países. 

Mas você já se perguntou como tudo isso começou? Por que esse sentimento é tão forte entre os países, torcidas e sociedade? Outras seleções se destacam no futebol, já tiveram grandes embates com o Brasil, partidas marcantes, torcidas intensas e até jogos polêmicos, mas nenhuma se compara com a rivalidade instaurada entre Brasil e Argentina.

A história entre eles já passou por muitos momentos diferentes, inclusive alguns de alta tensão nos períodos de divergências políticas e ideológicas. Durante boa parte do século XX, Brasil e Argentina eram rivais regionais, competindo por influência econômica, política e esportiva. Alimentada por diferenças ideológicas, raciais, disputas comerciais e competição por liderança na América do Sul, a rivalidade foi se instaurando ao longo dos anos.

Então, se você está procurando uma única resposta definitiva para essa rivalidade alimentada por anos, sinto em lhe informar, mas não existe uma conclusão exata. Conforme o palmeirense e professor do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Maria, João Manuel Casquinha, “o que existe é a análise de alguns elementos da história, ocasiões e partidas que ajudam a entender esse processo”, explica ele. Casquinha também é coordenador do Stadium: Grupo de Pesquisas em História do Esporte, onde tem a oportunidade de aprofundar seus estudos no assunto que tanto ama, o futebol. 

Portanto, por ser uma das rivalidades mais intensas e apaixonadas do mundo, é interessante aprofundar sobre o tema para entender as relações envolvidas entre elas. 

De acordo com o professor do Departamento de Antropologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), José Paulo Florenzano, a abordagem da rivalidade acirrada entre Brasil e Argentina, oferece uma visão perspicaz. “Para compreender a complexidade da rivalidade entre Brasil e Argentina, podemos recorrer à própria história do futebol brasileiro. Em determinadas épocas, alguns clubes ultrapassaram as barreiras do clubismo e se tornaram fenômenos culturais. O Santos na era Pelé, o Flamengo na era Zico, o São Paulo na era Telê, o Corinthians durante a democracia corinthiana, o Palmeiras da primeira academia e até mesmo a seleção brasileira na década de 70 eram times que não apenas atraíam os olhares da nação, mas também conquistaram admiradores além das fronteiras nacionais, incluindo argentinos”, comenta o professor. 

Florenzano decidiu fazer de sua paixão uma reflexão teórica para a vida. Por isso, já escreveu vários livros sobre o tema e compartilha sua experiência na área de Antropologia, com ênfase no Esporte. Ele entende o futebol como uma força que une e transcende rivalidades nacionais, pois conecta pessoas de diferentes origens em torno da admiração por equipes excepcionais. Esses momentos criam laços que superam as fronteiras e as rivalidades, refletindo o amor pelo esporte em meio à intensa competição. 

Além disso, a rivalidade também pode ser traçada aos ícones do passado, como Pelé e Maradona. Pelé, uma lenda do futebol brasileiro, e Maradona, um ícone argentino, representam uma era em que os dois países competem pelo título de melhor seleção do mundo.

Pelé e Maradona no Oscar dos Esportes, premiação realizada em Milão, da Itália, em março de 1987. Foto: AP/Arquivo

Essa rivalidade é alimentada por uma série de fatores históricos e culturais. Porém, alguns dos maiores nomes do esporte também têm desempenhado papéis significativos. Um exemplo notável é a comparação constante entre Lionel Messi, da Argentina, e Neymar, do Brasil. Ambos considerados dois dos melhores jogadores da atualidade.

Messi e Neymar, que compartilharam alguns anos no Barcelona (de 2013 a 2017), são frequentemente comparados em seus estilos de jogo. Essa pauta se estende a competições internacionais, como a Copa do Mundo FIFA, onde as atuações de ambos são acompanhadas de perto pelos fãs e pela mídia. Entretanto, se para alguns essa comparação já parecia desigual, após a Argentina conquistar o seu tricampeonato mundial na Copa do Qatar de 2022, Lionel Messi se coloca a frente com uma certa unanimidade.

Na história do futebol sul-americano, com influência também se destaca outro nome icônico e influente, o narrador Galvão Bueno. Ao longo de décadas, sua voz característica não apenas acompanhou os momentos mais emocionantes do esporte, mas também desempenhou um papel significativo no aumento da rivalidade entre Brasil e Argentina na era moderna.

“Na minha opinião como torcedor, o Galvão pilhava demais nos jogos entre Brasil e Argentina, era algo hilário, pois ele sempre dizia aquela coisa do jogador argentino ser catimbeiro. Eu me lembro de vivenciar isso desde de criança”, admite Casquinha. Essas palavras refletem o impacto duradouro que Galvão Bueno teve na forma como os torcedores enxergavam os embates entre as duas seleções. 

Já na Argentina não tem nenhum narrador que se compare com a intensidade e competição narrada por Galvão. Eles costumam ser sinceros e até admiradores do futebol brasileiro. Uma partida recente válida pelas Eliminatórias para Copa do Mundo de 2018 na Rússia, demonstra o quanto o narrador Daniel Mollo deixou se envolver com o bom desempenho do time brasileiro resultando em 3 a 0 contra a Argentina. “Não dá, o Brasil é o melhor time da América do Sul, amigos…”, confessa ele.

Em compensação, a mídia argentina não deixa passar em branco. Um dos episódios mais polêmicos que existiram foi causado após uma publicação do jornal “La Crítica” em 1920. Há quem diga até que aquele foi o início da conhecida rivalidade entre as duas seleções. 

No dia 3 de Outubro, o jornal de Buenos Aires, publicou uma charge mostrando um time de macacos com a camisa da seleção, sob o título “Macacos em Buenos Aires” e o subtítulo “Uma saudação aos ilustres hóspedes”. No texto cheio de ofensas racistas, o jornal dizia que a partida deveria terminar antes do anoitecer para que os brasileiros pudessem ser vistos. “Os brasileiros são pessoas de cor que se vestem como nós e pretendem se confundir à raça americana”, publicou o “Critica”.

Racismo e a rivalidade no futebol

As questões de racismo envolvendo a rivalidade entre Brasil e Argentina, especialmente no contexto do futebol, são um aspecto lamentável dessa relação que influencia atitudes da torcida, jogadores e a sociedade. Uma pauta que não deveria ter lugar no esporte ou em qualquer outro aspecto da sociedade. Contudo, essa rivalidade do futebol nem sempre se limita ao campo de jogo. Em ambos os países, casos de racismo e preconceito são instigados. 

Durante as partidas de futebol, existem relatos de torcedores de ambos os lados expressando comentários racistas e gestos discriminatórios em relação aos jogadores e torcedores do país adversário. Isso inclui insultos raciais direcionados a jogadores negros ou de origem africana. 

O professor João Manuel Casquinha explica a respeito do contexto histórico da tentativa da Argentina de constituir uma identidade branca desde o final do século 19. Buenos Aires recebeu muitos imigrantes italianos e judeus nessa época. Isso fez com que aos poucos o governo argentino e a sociedade tentassem apagar a memória da população negra na Argentina. 

No episódio da publicação do jornal “Crítica” em 1920 foi devastador. “Houve um rompimento de tensão forte entre relações. Foi preciso um pedido de desculpas do governo argentino, e do Ministro da Justiça de forma pública ao Brasil”, conta ele.

Um processo que aconteceu ao longo dos anos. Porém o cenário era a Argentina na tentativa da construção de um país branco e o Brasil por outro lado, que é o maior em termos territoriais na América do Sul, tendo cada vez mais jogadores negros, ganhando vários titulos se destacando, “era um encaixe perfeito para criar a oposição”, afirma o professor.

Este episódio histórico, do jornal “La Critica”, mostra a complexa relação entre as duas nações no contexto do futebol e explica como questões raciais foram entrelaçadas com essa rivalidade desde os primeiros encontros entre Brasil e Argentina.

No Brasil, por exemplo, episódios de racismo contra argentinos ocorreram em eventos esportivos e nas redes sociais. Em alguns casos, torcedores brasileiros têm proferido insultos e gestos discriminatórios contra argentinos durante partidas de futebol, como por exemplo alguns torcedores de times brasileiros que rasgavam notas de pesos argentinos (moeda oficial da Argentina) para provocar os argentinos. Da mesma forma, a Argentina também viu incidentes de preconceito contra brasileiros, tendo muitos casos em que torcedores argentinos foram flagrados imitando macacos se referindo aos brasileiros. Esses eventos, embora lamentáveis, são uma manifestação infeliz da rivalidade e tensão entre os dois países.

Nas redes sociais, torcedores muitas vezes usam plataformas para propagar o ódio racial, fazendo comentários racistas e xenofóbicos contra jogadores e torcedores do país rival. Essas atitudes são prejudiciais e refletem uma falta de respeito mútuo, ganhando destaque negativo na mídia e gerando repúdio por parte dos fãs e das autoridades esportivas.

O racismo no contexto esportivo tem um impacto negativo na sociedade como um todo. Ele perpetua estereótipos prejudiciais, prejudica a autoestima das vítimas e cria um ambiente hostil para a participação de minorias étnicas no esporte. Tanto o Brasil quanto a Argentina têm leis e regulamentos que proíbem a discriminação racial e o discurso de ódio. Além disso, as organizações esportivas internacionais, como a FIFA e a CONMEBOL, também têm diretrizes rígidas contra o racismo e punem os infratores.

Ronaldo Helal, sociólogo graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), também destacou uma análise sobre outros dois combates emblemáticos que aconteceram em 2005. Em suas palavras, ele destaca que “naquele ano, dois embates se destacaram: a vitória da Argentina por 3×1 sobre o Brasil no Estádio Monumental de Núñez, pelas eliminatórias da Copa do Mundo, e a resposta do Brasil com um convincente 4×1 na final da Copa das Confederações”.

Na época, o jornalista argentino Leonardo Farinella expressou preocupações dentro da torcida argentina. Farinella chegou a afirmar que alguns argentinos estavam apreensivos com o confronto, chegando a fazer a seguinte declaração: “Quando os ‘negritos’ acordarem, vão meter 8 gols na Argentina”. Helal ainda completou: “Eles têm o estereótipo de que o nosso ‘jogo bonito’ é uma característica dos jogadores brasileiros negros”.

Essas observações de Ronaldo Helal e Leonardo Farinella lançam luz sobre como, em meio à rivalidade futebolística, estereótipos e percepções culturais podem influenciar a narrativa e as emoções que cercam os confrontos entre as seleções do Brasil e da Argentina. Nos campos de batalha da história sul-americana, onde intrigas territoriais e conflitos moldaram destinos, uma rivalidade fervorosa estava prestes a nascer. Essa disputa territorial resultou na Guerra do Paraguai (1864-1870), na qual Brasil e Argentina se uniram contra o Paraguai.

Duelos em Copas do Mundo

Quando se fala de Brasil e Argentina no futebol é praticamente impossível não citar suas respectivas glórias em Copas do Mundo. Juntas, as seleções somam oito conquistas da taça mais cobiçada do futebol mundial à nível de seleções. Porém, a lista de confrontos entre estas duas equipes na história das Copas é relativamente curta. Brasil e Argentina se enfrentaram em quatro oportunidades, nos anos de 1974, 1978, 1982 e 1990, com duas vitórias da Seleção Canarinho, uma dos hermanos e um empate.

Um desses confrontos, talvez o mais conhecido, é o segundo deles, que ficou conhecido como “A Batalha de Rosário”. O embate foi realizado no estádio Gigante de Arroyito, na cidade de Rosário. A partida terminou em 0 x 0, mas as equipes apresentaram dentro de campo um roteiro digno de um Brasil e Argentina, um jogo truncado, repleto de faltas e com boas oportunidades de gols para os dois lados.

Argentina x Brasil, no Gigante de Arroyito, pela segunda fase de grupos da Copa do Mundo de 1978

Na opinião do professor Florenzano, este primeiro encontro entre as duas seleções foi o momento mais marcante dessa rivalidade. Ele comenta que a rivalidade havia ganhado muita força a partir do tricampeonato mundial do Brasil, sendo que a Argentina ainda não havia conqusitado nenhuma taça da Copa do Mundo.

Além deste quesito, Florenzano traz um outro ingrediente que elevou os níveis deste antagonismo. “Em termos de seleções eu acredito que nada supere 78. A Argentina havia sido definida como a dona de casa da Copa de 78, no ano de 1973, durante o governo de Juan Domingo Perón. O ex-presidente da Argentina morre durante a Copa de 1974, e a partir daí, a Argentina mergulha em uma grande crise política, econômica e social. Em 1975, os próprios jornais argentinos duvidavam da capacidade do país em sediar a Copa de 78”.

“Então, é neste momento de fragilidade que o Brasil se oferece como alternativa para a realização da Copa. As reformas estavam todas paradas na Argentina, além disso, o país não tinha um sistema de comunicação que garantisse a transmissão da Copa para a Europa. Foi então, que o presidente, na época, da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), Heleno de Barros Nunes começa a dar declarações que se a Argentina não sediasse a Copa, o Brasil estava pronto. Porém, a ideia não se concretizou e a competição foi mantida no mesmo local. O Brasil tentou tirar a Copa da Argentina em 1975. Esse é um ingrediente pouco conhecido da rivalidade”, pontua.

Disputa Territorial e Guerra do Paraguai

A história da rivalidade entre Brasil e Argentina remonta ao século XIX, quando ambos os países estavam em disputa pela região da Cisplatina, que hoje é o Uruguai. Essa disputa territorial resultou na Guerra do Paraguai (1864-1870), na qual Brasil e Argentina se uniram contra o Paraguai.

Embora tenham sido aliados durante a guerra, as tensões persistiram após o conflito. A Argentina, na época, era um dos países mais ricos do mundo em termos de PIB per capita, o que criava uma sensação de superioridade em relação ao Brasil.

As disputas territoriais entre Brasil e Argentina ao longo da história têm raízes profundas e complexas, muitas vezes relacionadas a fronteiras mal definidas, ambições expansionistas e questões geopolíticas. Uma das disputas mais notáveis ​​foi a Guerra da Cisplatina (1825-1828), que ocorreu antes da independência do Uruguai, quando Brasil e Argentina ainda eram colônias de Portugal e Espanha, respectivamente.

Guerra da Cisplatina (1825-1828): A Guerra da Cisplatina foi um conflito armado que ocorreu entre o Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata (atual Argentina e Uruguai) pela posse da região da Cisplatina, que fazia parte do Vice-Reino do Rio da Prata durante o período colonial. A região, que incluía o atual Uruguai, era estrategicamente importante devido à sua localização às margens do Rio da Prata.

O conflito teve várias causas, incluindo descontentamento dos habitantes locais com o domínio brasileiro e rivalidades entre as potências regionais. Após três anos de combates, a Cisplatina se tornou independente como a República Oriental do Uruguai, sob mediação britânica. Isso encerrou a guerra, mas a rivalidade e as tensões entre Brasil e Argentina persistiram. Durante a Guerra do Paraguai, que ocorreu entre 1864 e 1870, o Paraguai estava sob o governo autoritário de Francisco Solano López, que tinha ambições expansionistas e hostilizava seus vizinhos.

Na trajetória histórica das relações entre Brasil e Argentina, percebemos nuances que oscilam entre momentos de conflito e períodos de colaboração. Essa rivalidade é uma construção complexa, moldada por uma variedade de fatores, e sua evolução ao longo do tempo é fundamental para uma compreensão abrangente.

O professor Francisco Doratioto, doutor em história e ciências sociais pela Universidade de Brasília, é uma autoridade na área. Além disso, é membro da Academia Nacional de História Argentina e integra o Instituto de Geografia e História Militar do Brasil.

“Durante a Guerra do Paraguai no século XIX, Brasil e Argentina estabeleceram uma aliança notável, demonstrando que a cooperação pode superar as rivalidades. Na década de 1980, as relações diplomáticas entre os dois países prosperaram, refletindo um período de entendimento mútuo. Já no início da República, testemunhamos a rivalidade enraizada em disputas territoriais, preconceitos e choques culturais, além disso, é imperativo destacar o papel crucial do esporte, em especial o futebol, na intensificação das emoções e na criação de rivalidades apaixonadas entre essas nações”, afirma Doratioto.

Assim, a rivalidade entre Brasil e Argentina é uma construção histórica multifacetada, moldada por diversos elementos, incluindo preconceito, disputas territoriais, diferenças culturais e rivalidades esportivas. Aprofundar nosso entendimento sobre essa evolução ao longo do tempo nos permite analisar as relações bilaterais sob uma ótica mais abrangente e informada. Ainda que tenham se unido durante o conflito, as relações entre Brasil e Argentina durante o conflito não eram isentas de rivalidades e suspeitas mútuas. Ambos os países buscaram vantagens territoriais e econômicas após a guerra, o que causou tensões.

A rivalidade e desconfiança mútua se manifestaram, por exemplo, nas negociações do Tratado da Tríplice Aliança, que encerrou a guerra. A disputa por territórios fronteiriços e a competição por influência na região continuaram a existir após o fim da guerra e ao longo do século XX. No entanto, é importante notar que, ao longo dos anos, Brasil e Argentina também tiveram momentos de cooperação em questões regionais e internacionais.

Atualmente, as relações diplomáticas entre os dois países são mais estáveis, e as disputas territoriais foram, em grande parte, resolvidas ou atenuadas por meio de acordos bilaterais e mediação internacional. No entanto, a rivalidade no futebol e a busca por influência regional ainda são aspectos importantes da relação entre Brasil e Argentina.

Desde o primeiro encontro de suas seleções nacionais, a rivalidade entre Brasil e Argentina tem sido repleta de drama, paixão e momentos inesquecíveis. Ambos compartilham uma história de colonização, independência e desenvolvimento paralelos, o que inevitavelmente gerou uma interação contínua e frequentemente competitiva. É evidente que essa rivalidade não se limita apenas aos campos de futebol, mas se estende às relações históricas, geográficas e culturais que moldaram o vínculo entre esses dois países ao longo dos séculos.

Com seu renomado currículo acadêmico, o professor Doratioto é especialista em história militar e nas relações do Brasil com outros países. Ele acredita que, apesar dos conflitos que marcaram a história entre essas nações, a guerra vai muito além disso. Em suas palavras, “A história entre Brasil e Argentina não se resume a uma relação de rivalidade e antagonismo; isso é apenas um estereótipo de uma realidade mais complexa”.

Visão do Brasil sobre a Argentina atualmente

No entanto, ao longo das últimas décadas, essa perspectiva negativa tem evoluído e passado por altos e baixos. O Brasil reconheceu os benefícios da cooperação com a Argentina em detrimento da rivalidade.

No presente, essa percepção em ambos os países está em constante transformação a cada ano. De fato, as relações têm se fortalecido significativamente. Os governos de ambas as nações têm buscado soluções pacíficas para questões regionais e globais, demonstrando um compromisso conjunto com a estabilidade na América do Sul.

O Brasil considera a Argentina como um mercado crucial para suas exportações e um destino de grande importância para investimentos brasileiros. Apesar dos desafios, a visão predominante é de que uma Argentina economicamente estável é de interesse do Brasil. A estabilidade econômica do país vizinho é vista como essencial para reduzir a volatilidade na região e expandir as oportunidades comerciais.

Visões Atuais e Influência de Messi

Atualmente, as relações entre Brasil e Argentina são mais amigáveis em termos políticos e econômicos. No entanto, a rivalidade no futebol permanece intensa, com ambos os países buscando demonstrar superioridade sempre que têm a oportunidade.

A postura de Lionel Messi, que se tornou um dos maiores embaixadores do futebol argentino, influencia significativamente a visão dos argentinos sobre o Brasil. Suas opiniões e atitudes em relação ao Brasil têm o poder de moldar a opinião pública.

O professor João Manuel Casquinha, comentou sobre os impactos que a nova geração recebe devido a globalização, e como isso resulta na visão dos países. Ele aborda que até o videogame tem contribuído para a aproximação e admiração dos países entre si no futebol as novas torcidas brasileiras por Messi. “Ao escolher um jogador Argentino no videogame, o jogador cria uma identidade assim como tem com outro jogador brasileiro. Às vezes uma identidade até maior do que com outro atleta do seu próprio time, pois nem sempre conhecem porque jogam em outro país”. Ele comenta que o próprio filho prefere um jogador argentino craque do que um brasileiro desconhecido, e assim passam horas e madrugadas no FIFA.

Neymar e Messi conversando após paralisação da partida entre Brasil e Argentina, em setembro de 2021.

A Copa do Mundo é sempre um momento crucial para a rivalidade entre os dois países. A última edição do torneio trouxe emoções mistas, com o Brasil esperando conquistar o hexacampeonato, enquanto a Argentina, liderada por Messi, buscava sua terceira taça. A vitória da Argentina na Copa do Mundo de 2022, realizada no Catar, intensificou a rivalidade e o orgulho nacional em ambos os países.

De acordo com análise do sociólogo e professor de cultura popular da Universidade de Buenos Aires (UBA), Pablo Alabarces, é interessante a comparação do conceito de idolatria que esses países têm pelos seus jogadores, pois vem do contexto cultural.

“É interessante observar que, mesmo com a notável abundância de jogadores de elite no Brasil, como Pelé, Neymar, Ronaldo, Ronaldinho, Kaká, Rivaldo e Zico, esses talentos não desfrutam do mesmo nível de idolatria nacional que Maradona e Messi alcançaram na Argentina. Isso pode ser atribuído, em parte, às conquistas épicas e heróicas desses dois jogadores argentinos, que capturaram o coração e a devoção dos torcedores argentinos, transformando-os em verdadeiros heróis nacionais, indo além de suas carreiras como simples jogadores de futebol”, afirma Alabarces.

Contudo, os dois países são rivais e enfrentam essas diversidades por serem destaque no mundo todo e invejosamente talentosos. Conforme Casquinha, “a rivalidade esportiva só acontece com a grandeza e com as conquistas que ambos tiveram”.

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